quarta-feira, 12 de março de 2014

OS SONS INCLUSIVOS DA SURDEZ



A história comprova que a evolução conceitual da surdez sempre esteve atrelada ao modo de como o estudioso e/ou pesquisador à concebe. O binômio surdez e linguagem sempre fizeram parte do debate no campo das ideias dos pesquisadores, por isso, de tempos em tempos ecoam sons que deixam marcas, equívocos e contribuições em prol da educação da pessoa com surdez.
Conforme Damázio essas pessoas enfrentam inúmeros entraves para participarem da educação escolar, decorrentes da especificidade do limite que a perda da audição provoca e da forma como se estruturam as propostas educacionais.
Em um dado momento histórico ouve-se o som dos oralistas e gestualistas que tenderam centrar a defesa de suas ideias ora no gestual,ora no oral, esquecendo de tratar a pessoa surda como ser social, político, cultural, afetivo e linguístico, que pode ser estimulada tornando-se produtiva e desenvolvida. Segundo Damázio muitos alunos com surdez podem ficar prejudicados pela falta de estímulos adequado nesses aspectos e ter perdas consideráveis no desenvolvimento da aprendizagem, ficando aquém dos demais colegas da classe. O som. dos gestualistas e oralistas, trouxe a dicotomização entre as duas visões e passa-se a ouvir um outro som, a concepção pós moderna, que não vê a pessoa surda como um ser deficiente mas que apenas apresenta uma perda sensorial auditiva e é dotada de consciência, pensamento e linguagem. Na sociedade a pessoa com surdez muitas vezes não é vista por suas potencialidades, mas pelas suas limitações impostas por sua condição. Outro fator que reduz a condição da pessoa com surdez é negá-la a experienciar as interações sociais com os ouvintes é reduzi-lá ao gueto de um mundo surdo com uma identidade e uma cultura surda. Conforme Damázio é no descentramento identitário que podemos conceber cada pessoa com surdez como um ser biopsicosocial, cognitivo, cultural, não somente na constituição de sua subjetividade mas também na forma de aquisição e produção de conhecimentos, capazes de adquirirem e desenvolverem não somente os processos visuais-gestuais, mas também de leitura e escrita e de fala se desejarem.
Em outro momento histórico ecoa o som das tendências que se fundamentaram em três abordagens diferentes: a oralista, a comunicação total e o bilinguismo. No oralismo a fala e a leitura labial são privilegiadas em detrimento às demais possibilidades do sujeito. Comprovadamente essa abordagem não atingiu resultados satisfatórios por negar a língua de sinais, natural das pessoas com surdez. A comunicação total ou bimodalismo adota o uso de todo e qualquer recurso para a comunicação, a linguagem oral se sobrepõe e prejudica a comunicação através da língua de sinais. Os resultados obtidos através da comunicação total são controversos quando observamos as pessoas com surdez no seu cotidiano, parecem não terem avançado no seu desenvolvimento comunicativo mantendo-se segregadas no contexto maior da sociedade. Ambas as tendências negam a língua natural das pessoas com surdez e provocam perdas consideráveis nos aspectos sócio-afetivos, linguísticos, políticos culturais e na aprendizagem. O bilinguismo preconiza a utilização de duas línguas, a língua de sinais e a língua da comunidade ouvinte. Portanto, nesta abordagem cada língua tem seu papel fundamental, não se misturam e não se descaracterizam como diferenças linguísticas.No tocante ao campo educacional essa tendência se mostra satisfatória por eleger a língua de sinais como primeira língua e a língua portuguesa a segunda na modalidade escrita. Em conformidade com esta proposta publica-se o Decreto 5.626 de 5 de dezembro de 2005 que legitima a Libras como a Língua da pessoa com surdez. Os resultados educacionais nessa abordagem ainda estão se sistematizando com práticas educacionais que promovam a participação e aprendizagem dos alunos com surdez.
O aluno surdo não é pior do que o aluno ouvinte, tem as mesmas capacidades cognitivas porém tem uma forma única e peculiar de aprender por compartilhar de duas culturas e que precisa apropriar-se de ambas. Segundo Damázio é necessário reinventar as formas de conceber a escola e suas práticas pedagógicas rompendo com os modos lineares do pensar e agir no que se refere a escolarização. O paradigma inclusivo não se coaduna com concepções que dicotomizam as pessoas com e sem deficiência. 
Na educação de pessoas com surdez destaca-se a proposta bilíngue que pauta a organização da prática pedagógica na escola comum, na sala de aula comum e no AEE. 
O AEE promove o acesso dos alunos com surdez ao conhecimento em duas línguas, Libras e Língua Portuguesa. Ele deve ser interdisciplinar e compreendido como uma teia de relações, onde as informações se processam como instrumentos de interlocução e diálogo. O AEE envolve três momentos didático-pedagógicos que acontecem todos os dias no contraturno, os professores devem ter formação na sua área de atuação e serem engajados na proposta, o ambiente de ensino deve ser rico em materiais com todo tipo de referência que contribuam com aprendizado dos conteúdos escolares, o planejamento deve sempre ocorrer em parceria com os professores envolvidos e deve partir do nível de conhecimento do aluno com organização metodológica e didática específica para o aluno com surdez e a avaliação deve ser concomitante ao processo de ensino aprendizagem com o objetivo de assegurar os avanços do aluno e redefinir o planejamento.

*AEE em Libras: O professor e/ou instrutor (preferencialmente surdo), sedimenta a base conceitual dos conteúdos curriculares utilizando a língua nas diferentes modalidades, etapas e níveis como meio de comunicação e interlocução.

*AEE de Libras: O professor e/ou instrutor ( preferencialmente surdo) ensina e enriquece os conteúdos curriculares promovendo a aprendizagem. O planejamento deve ser a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a respeito da Libras. Esse momento exige organização metodológica didática especializada.

*AEE de Língua Portuguesa: O professor formado em Língua Portuguesa (preferencialmente) desenvolve a competência gramatical, linguística e textual dos alunos com surdez.
Ao som das leis, decretos, propostas e planos ainda é um grande desafio a educação e a inclusão de alunos com surdez nas escolas comum. Embora muitas mudanças foram alcançadas, novos conceitos surgiram e , a partir de um novo contexto com a proposta da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), preconiza-se uma escola para todos e com todos , sem separações de sexo, raça, credo e classe social que está aberta para acolher as diferenças, e que possibilite a construção individual dos seus alunos tornando-se um dever do estado e a garantia do direito adquirido do sujeito, vislumbrando para todos as mesmas possibilidades de realização humana e social.


*Bibliografia:

  • Coletânea UFC – MEC/2010 – Educação Especial na Perspectiva Inclusiva Escolar
    (Fascículo Nº05: Educação escolar de Pessoa com Surdez AEE em construção)

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