A história comprova que
a evolução conceitual da surdez sempre esteve atrelada ao modo de
como o estudioso e/ou pesquisador à concebe. O binômio surdez e
linguagem sempre fizeram parte do debate no campo das ideias dos
pesquisadores, por isso, de tempos em tempos ecoam sons que deixam
marcas, equívocos e contribuições em prol da educação da pessoa
com surdez.
Conforme Damázio essas
pessoas enfrentam inúmeros entraves para participarem da educação
escolar, decorrentes da especificidade do limite que a perda da
audição provoca e da forma como se estruturam as propostas
educacionais.
Em um dado momento
histórico ouve-se o som dos oralistas e gestualistas que tenderam
centrar a defesa de suas ideias ora no gestual,ora no oral,
esquecendo de tratar a pessoa surda como ser social, político,
cultural, afetivo e linguístico, que pode ser estimulada tornando-se
produtiva e desenvolvida. Segundo Damázio muitos alunos com
surdez podem ficar prejudicados pela falta de estímulos adequado
nesses aspectos e ter perdas consideráveis no desenvolvimento da
aprendizagem, ficando aquém dos demais colegas da classe. O som.
dos gestualistas e oralistas, trouxe a dicotomização entre as
duas visões e passa-se a ouvir um outro som, a concepção pós
moderna, que não vê a pessoa surda como um ser deficiente mas que
apenas apresenta uma perda sensorial auditiva e é dotada de
consciência, pensamento e linguagem. Na sociedade a pessoa com
surdez muitas vezes não é vista por suas potencialidades, mas pelas
suas limitações impostas por sua condição. Outro fator que reduz
a condição da pessoa com surdez é negá-la a experienciar as
interações sociais com os ouvintes é reduzi-lá ao gueto de um
mundo surdo com uma identidade e uma cultura surda. Conforme Damázio
é no descentramento identitário que podemos conceber cada pessoa
com surdez como um ser biopsicosocial, cognitivo, cultural, não
somente na constituição de sua subjetividade mas também na forma
de aquisição e produção de conhecimentos, capazes de adquirirem e
desenvolverem não somente os processos visuais-gestuais, mas também
de leitura e escrita e de fala se desejarem.
Em outro momento histórico
ecoa o som das tendências que se fundamentaram em três abordagens
diferentes: a oralista, a comunicação total e o bilinguismo. No
oralismo a fala e a leitura labial são privilegiadas em detrimento
às demais possibilidades do sujeito. Comprovadamente essa abordagem
não atingiu resultados satisfatórios por negar a língua de sinais,
natural das pessoas com surdez. A comunicação total ou bimodalismo
adota o uso de todo e qualquer recurso para a comunicação, a
linguagem oral se sobrepõe e prejudica a comunicação através da
língua de sinais. Os resultados obtidos através da comunicação
total são controversos quando observamos as pessoas com surdez no
seu cotidiano, parecem não terem avançado no seu desenvolvimento
comunicativo mantendo-se segregadas no contexto maior da sociedade.
Ambas as tendências negam a língua natural das pessoas com surdez
e provocam perdas consideráveis nos aspectos sócio-afetivos,
linguísticos, políticos culturais e na aprendizagem. O bilinguismo
preconiza a utilização de duas línguas, a língua de sinais e a
língua da comunidade ouvinte. Portanto, nesta abordagem cada língua
tem seu papel fundamental, não se misturam e não se descaracterizam
como diferenças linguísticas.No tocante ao campo educacional essa
tendência se mostra satisfatória por eleger a língua de sinais
como primeira língua e a língua portuguesa a segunda na modalidade
escrita. Em conformidade com esta proposta publica-se o Decreto 5.626
de 5 de dezembro de 2005 que legitima a Libras como a Língua da
pessoa com surdez. Os resultados educacionais nessa abordagem ainda
estão se sistematizando com práticas educacionais que promovam a
participação e aprendizagem dos alunos com surdez.
O aluno surdo não é
pior do que o aluno ouvinte, tem as mesmas capacidades cognitivas
porém tem uma forma única e peculiar de aprender por compartilhar
de duas culturas e que precisa apropriar-se de ambas. Segundo
Damázio é necessário reinventar as formas de conceber a escola
e suas práticas pedagógicas rompendo com os modos lineares do
pensar e agir no que se refere a escolarização. O paradigma
inclusivo não se coaduna com concepções que dicotomizam as pessoas
com e sem deficiência.
Na educação de
pessoas com surdez destaca-se a proposta bilíngue que pauta a
organização da prática pedagógica na escola comum, na sala de
aula comum e no AEE.
O AEE promove o acesso
dos alunos com surdez ao conhecimento em duas línguas, Libras e
Língua Portuguesa. Ele deve ser interdisciplinar e compreendido como
uma teia de relações, onde as informações se processam como
instrumentos de interlocução e diálogo. O AEE envolve três
momentos didático-pedagógicos que acontecem todos os dias no
contraturno, os professores devem ter formação na sua área de
atuação e serem engajados na proposta, o ambiente de ensino deve
ser rico em materiais com todo tipo de referência que contribuam com
aprendizado dos conteúdos escolares, o planejamento deve sempre
ocorrer em parceria com os professores envolvidos e deve partir do
nível de conhecimento do aluno com organização metodológica e
didática específica para o aluno com surdez e a avaliação deve
ser concomitante ao processo de ensino aprendizagem com o objetivo de
assegurar os avanços do aluno e redefinir o planejamento.
*AEE em Libras:
O professor e/ou instrutor (preferencialmente surdo), sedimenta a
base conceitual dos conteúdos curriculares utilizando a língua nas
diferentes modalidades, etapas e níveis como meio de comunicação e
interlocução.
*AEE de Libras: O professor
e/ou instrutor ( preferencialmente surdo) ensina e enriquece os
conteúdos curriculares promovendo a aprendizagem. O planejamento
deve ser a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a
respeito da Libras. Esse momento exige organização metodológica
didática especializada.
*AEE de Língua Portuguesa: O
professor formado em Língua Portuguesa (preferencialmente)
desenvolve a competência gramatical, linguística e textual dos
alunos com surdez.
Ao
som das leis, decretos, propostas e planos ainda é um grande
desafio a educação e a inclusão de alunos com surdez nas escolas
comum. Embora muitas mudanças foram alcançadas, novos conceitos
surgiram e , a partir de um novo contexto com a proposta da Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (2008), preconiza-se uma escola para todos e com todos ,
sem separações de sexo, raça, credo e classe social que está
aberta para acolher as diferenças, e que possibilite a construção
individual dos seus alunos tornando-se um dever do estado e a
garantia do direito adquirido do sujeito, vislumbrando para todos
as mesmas possibilidades de realização humana e social.
*Bibliografia: